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E aqui estamos novamente para tratar dessa tecnologia que tanto tem sido falada. Nos dois primeiros artigos foram apresentados os principais conceitos (aqui) da computação em nuvem e uma série de características (aqui) relevantes que, de alguma forma, ajudarão na adoção, ou não, deste modelo. Neste artigo o objetivo é trazer à luz aqueles que já se decidiram pela adoção e agora precisam saber como adotar. Vários fatores devem ser considerados, vejamos alguns:

Passo 1 – A escolha do que migrar

Um dos pontos a se considerar é o que deve ser migrado. A questão aqui não é apenas sobre o que os executivos e/ou o marketing deseja que seja “levado às nuvens”, mas sim o que pode ser levado, ou, pelo menos, o que pode ser levado agora. Um bom planejamento das ações é fundamental para o sucesso da migração.

É importante levantar se a arquitetura das aplicações está de acordo com o ambiente em nuvem – no geral, sistemas monolíticos são mais resistentes à escalabilidade, por exemplo – e se o impacto negativo, caso algo não corra bem, não será muito grande. Já sei como ficará a performance desta aplicação no novo ambiente? No geral a performance na nuvem é um ponto positivo, mas nem todas as aplicações são capazes de se beneficiar dela. Por isso o ideal é que se comece devagar, migrando inicialmente as aplicações menos críticas e mais favoráveis a se beneficiarem do modelo computacional.

Outro aspecto a se considerar nessa escolha está relacionado com a experiência dos usuários. Como o usuário interage com o aplicativo atualmente? Ele precisará se adaptar a uma nova forma ou a mudança será transparente? Há, de fato, muitas razões para a utilização da computação em nuvem, como flexibilidade, performance ou custo, mas não devemos olhar simplesmente para o avanço tecnológico. O ideal é que os objetivos do negócio guiem a estratégia de migração, e isso, certamente, não será algo trivial de se conciliar.

Passo 2 – A escolha do modelo

Uma vez decidido o que migrar, é hora de analisar qual modelo atende melhor as necessidades do negócio. Como discutido no artigo anterior, a nuvem pode ser implantada em, basicamente, três modelos diferentes – pública, privada e híbrida – e entregue em três modalidades de serviços diferentes – Software como Serviço (SaaS), Plataforma como Serviço (PaaS) e Infraestrutura como Serviço (IaaS).

Embora uma breve introduzida já tenha sido dada tanto nos modelos de implantação, quanto nos modelos de entrega, cabe aqui levantar mais algumas questões relativas aos tipos de serviços. Começando pelo SaaS, este é uma boa opção para aqueles aplicativos que não geram renda para a empresa, como clientes de e-mail, editores de texto, e outros tantos que podem variar de negócio para negócio. No caso do SaaS, trata-se, na verdade, de uma substituição e não necessariamente de uma migração. Apesar de uma solução interessante, deve-se considerar os custos, a médio e longo prazo, da contratação desses softwares. Dependendo de como a quantidade de usuários e os períodos de propriedade aumentam, há de se avaliar se os custos para manter tais serviços não estão superando os custos da aquisição de licenças.

A PaaS pode ser uma boa opção para migrar os aplicativos do negócio baseados “na instalação padrão” de servidores de aplicação. Neste modelo de oferta o provedor gerencia o software da plataforma e pode oferecer outros serviços comuns, como acesso a bancos de dados. Para se optar pela PaaS é importante observar se o ambiente para o qual migrará atende a todos os requisitos da sua aplicação. Como a infraestrutura aqui é gerenciada pelo provedor, pouco poderá ser feito posteriormente quanto ao tipo e versão do servidor, por exemplo.

A IaaS, por sua vez, oferece um maior controle sobre o serviço contratado, permitindo que as aplicações sejam implantadas diretamente nos servidores do provedor. Por esse motivo, é importante que seja verificado, a priori, se há opções de hardware e sistemas operacionais compatíveis com os quais são utilizados in loco atualmente. Um exemplo grosseiro, mas que pode ilustrar a situação, é o caso do aplicativo a ser migrado estar otimizado para executar em uma plataforma de 64 bits. Nesse caso específico, deve-se garantir que os servidores do provedor suportam instruções de 64 bits e não apenas instruções de 32 bits. Caso contrário, esforços deverão ser empregados para a correta portabilidade da aplicação – quando isso for possível –, acarretando em custos extras para a migração.

Passo 3 – A escolha do provedor

Muitos dos cuidados necessários já foram citados no tópico anterior, mas, todavia, cabe a abertura de um tópico específico para a escolha do provedor. O primeiro passo aqui é conhecer as opções disponíveis, o que nos leva imediatamente aos líderes de mercado. Um levantamento apresentado pela RightScale no 2017 State of the Cloud Report <https://www.rightscale.com/lp/2017-state-of-the-cloud-report> coloca a AWS, da Amazon, no topo da adoção (57% das nuvens públicas), seguida pela Azure (34%), Google Cloud (15%) e IBM (8%).

No entanto, ser um provedor popular não deve ser o único fator a se observar. Cada um desses provedores possui características diferentes e oferece serviços diferentes. É importante verificar qual provedor será capaz de atender a sua demanda, qual consegue escalar com maior eficiência, qual oferece capacidade adequada de banco de dados, qual oferece as opções necessárias de gerenciamento, enfim, qual atende melhor as suas demandas.

O custo desses provedores também pode variar consideravelmente e deve, sem dúvidas, ser considerado. Mas deixemos essa discussão para o próximo tópico.

Passo 4 – Cálculo do custo da nuvem

Os provedores, de uma forma geral, oferecem calculadoras on-line para que possíveis clientes possam estimar os valores que serão gastos ao contratar seus serviços. É possível definir o tipo de servidor, quantidade de núcleos de processamento que serão utilizados, quantidade de memória, armazenamento, uso de banda para as comunicações de rede e assim por diante. Mas, para que o cálculo seja preciso, é necessário que tenhamos todas essas informações em mãos.

Para um bom dimensionamento de sua cloud, um ótimo ponto de partida é a realização de um auditamento dos custos e características de sua infraestrutura de TI. Muitas dessas informações, principalmente os custos diretos, são fáceis de obter. Esses custos diretos compreendem o valor pago pelos servidores, licenças de software, manutenção de contratos, manutenção dos servidores, link de acesso à internet, etc. São gastos que estão documentados na contabilidade da empresa. Sobre os custos indiretos, apesar de mais complexos, são também uma importante fonte de informações para a migração. Exemplos de custos indiretos são as quedas de produtividade sofridas pelos funcionários e/ou clientes devido a problemas na infraestrutura de TI. Uma vez conhecidos todos os custos, diretos e indiretos, terá em mãos um conjunto completo de informações que poderá ser utilizado na análise de viabilidade e comparação com a estimativa dos custos de nuvem.

 

Por fim, temos os custos com a migração em si. O primeiro deles está diretamente relacionado com a migração dos dados para o ambiente na nuvem. A depender da quantidade de dados que serão migrados, a fatura poderá ter um valor maior, principalmente porque os provedores costumam ter taxas atreladas às transferências de dados para os seus sistemas. Outro valor associado diretamente à migração está na integração dos aplicativos, se existirem aplicativos que dependem de outros sistemas legados, por exemplo, demandará esforços na integração e testes desses softwares, e este custo também deverá ser computado. Para finalizar este tópico, deve-se considerar também o custo com pessoal, principalmente se a equipe local de TI ainda não desenvolveu as competências necessárias para o trabalho. Nesse caso o melhor a fazer é contratar consultorias especializadas e garantir que tudo saia conforme planejado.

Passo 5 – Não cometer erros comuns

Esta lista poderia ser bastante extensa, mas, para não alongar muito a conversa, vamos nos limitar a duas situações que estão intrinsecamente conectadas. A primeira delas diz respeito aos talentos contratados para o processo de migração. Frente aos custos apresentados, surge aqui uma possibilidade de economia difícil de resistir, mas resista! Como acredito ter ficado claro no decorrer deste texto, vários aspectos a se observar demandam um bom conhecimento das tecnologias envolvidas. O sucesso da migração depende única e exclusivamente da correta tomada de decisão nas etapas do processo, por isso os profissionais envolvidos devem ter o domínio adequado para que as decisões sejam acertadas e a migração não se transforme em dor de cabeça para a empresa. É importante lembrar que o retrabalho custa mais do que um primeiro trabalho bem feito.

Para finalizar, a mudança de ambiente também implica numa mudança na cultura de trabalho. Há de se considerar, a partir desse momento, a criação de menos soluções monolíticas, por exemplo. E, por que não, pensar em aplicar o DevOps (que podemos apresentar futuramente em outra série de artigos)? Como mencionado, nuvem é também sinônimo de agilidade e eficiência, então a nova forma de trabalho deve refletir isso. Não podemos nos prender mais às velhas práticas.

Existe, realmente, um processo na adoção da nuvem que é indispensável para que possamos desfrutar posteriormente dos benefícios. Espero que este artigo tenha ajudado a elucidar mais algumas dúvidas e até o próximo!