Cientistas conseguem criar comida para astronautas a partir de fezes

Redação31/01/2018 11h34, atualizada em 31/01/2018 12h02

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Um grupo de pesquisadores da Penn State University divulgou recentemente uma pesquisa que promete realizar um sonho de longa data da Nasa: usar as fezes de astronautas para gerar comida para eles. A pesquisa promete uma maneira de criar alimentos nutritivos para os viajantes espaciais a partir de seus dejetos sólidos.

Por mais estranha que a ideia possa parecer, trata-se de uma descoberta importante. Afinal, numa eventual viagem a Marte, por exemplo, levar comida suficiente para a viagem toda seria muito pouco viável, tanto pelo peso quanto pela validade dos alimentos; cultivar comida durante a viagem, por outro lado, é um processomuito lento, e que ainda exige muitos recursos, como energia e água. Criar comida a partir das fezes dos astronautas, portanto, é uma solução ideal.

O segredo está nas bactérias

Para realizar essa façanha, os cientistas usaram um material normalmente utilizado para simular dejetos humanos, segundo o Science Alert. Esse material foi inserido em um sistema cilíndrico no qual havia uma série de bactérias. Essas bacterias se alimentavam das fezes, processando-as por meio de um procedimento chamado de digestão anaeróbica – semelhante ao que acontece em nosso estômago quando comemos.

Durate esse processo, as bactérias produziam o gás metano como subproduto de sua alimentação. Esse gás era, então, canalizado para outro ambiente, no qual ele servia de alimento para outra bacteria, chamada de Methylococcus capsulatus. Essa bacteria já é usada, atualmente, como ração animal: afinal, segundo os levantamentos dos cientistas, ela é composta por 52% de proteínas e 36% de gorduras, que são essenciais para a alimentação dos animais – incluindo humanos.

Todo esse sistema é chamado de “reator microbial”, pois ele usa micróbios para processar os dejetos. Segundo os cientistas, outras bactérias comestíveis podem ser geradas para minimizar o risco de que patógenos (microbios que causam doenças) sejam comidos pelos astronautas. Por exemplo: elevando-se a temperatura do sistema até 70ºC (o que mata a maioria dos patógenos), ainda é possível cultuivar uma bactéria comedora de metano que é 61% proteína e 16% gordura.

Viscoso mas gostoso

Comer “pastas de bactéria”, segundo os pesquisadores, não seria exatamente uma novidade. Além de ser usada como ração, alguns produtos (como o Vegemite, popular na Austrália) já são basicamente pastas de micróbios. Embora o principal autor do estudo, Christopher House, admita que a ideia seja “um pouco estranha”, ele também nota que ela é “mais rápida do que cultivar tomates ou batatas”.

Muito mais rápida, aliás: em apenas 13 horas, as bactérias foram capazes de processar enter 49% e 59% dos dejetos sólidos que foram encaminhados a elas. Mesmo com “mudanças dramáticas da quantidade de dejetos produzidos”, o sistema continuou a funcionar, o que significa que ele seria útil mesmo que a espaçonave estivesse excessivamente carregada.

Ainda é necessário refinar o sistema para que os astronautas possam usá-lo. Como House nota, por enquanto os diversos componentes do sistema foram testados de maneira isolada, e ainda é necessário criar uma maneira de ligá-los e fazê-los funcionar bem juntos. Para os astronautas, a novidade não deverá ser muito estranha. Afinal, como o Engadget aponta, os tripulantes da Estação Espacial Internacional já bebem xixi reciclado (as fezes, no entanto, são jogadas na atmosfera da Terra, onde são queimadas).

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital