A diretora de operações do Facebook, Dheryl Sandberg, se pronunciou hoje sobre a postura da rede social diante de notícias falsas. Em uma entrevista à página Axios, Sandberg revelou que o Facebook permite que seus usuários patrocinem notícias falsas para que elas cheguem a mais pessoas – mesmo que elas não tenham nenhum grau de veracidade.

O único requisito que a empresa avalia para permitir a promoção dos posts é a validade das contas que fazem essa promoção. Se as contas forem fraudulentas, a empresa impede que elas promovam quaisquer posts. Com relação às propagandas compradas por agentes russos para interferir nas eleições dos EUA no ano passado, Sandberg disse que se elas não pertencessem a contas fraudulentas, “a maioria telas poderia ter sido publicada normalmente”. 

Liberdade para mentir

“A responsabilidade de uma plataforma aberta é permitir que as pessoas se expressem”, disse Sandberg sobre seus comentários. “Nós não checamos o que as pessoas publicam”, continuou. De acordo com ela, a questão central em torno do caso da interferência russa nas eleições “é a seguinte: devemos permitir que anúncios políticos, divisivos ou problemáticos sejam veiculados? E a nossa repsosta é sim, porque quando você corta a fala de uma pessoa, você corta a a fala de todos”.

Embora Sandberg considere que defende a liberdade de expressão em sua postura, falta de rigidez na regulamentação quanto às propagandas veiculadas no Facebook são um problema real. As principais agências de inteligência dos Estados Unidos, por exemplo, confirmaram que agentes russos influenciaram os resultados das eleições do país. E, de acordo com o TechCrunch, uma das maneiras pelas quais eles fizeram isso foi promovendo posts que continham informações falsas para favorecer Donald Trump.

Para Sandberg, no entanto, o único problema dessa situação é o fato de que os russos usaram contas fraudulentas para promover seus posts. “Muitos destes posts, se eles tivessem sido promovidos por pessoas legítimas, nós teríamos permitido que eles fossem veiculados”, disse Sandberg. Por outro lado, a diretora de operações disse que está cooperando com o congresso dos Estados Unidos nas investigações sobre a interferência russa, compartilhando toda a informação que as autoridades exigem. 

Lavando as mãos

Com essa postura, o Facebook parece querer se eximir de qualquer responsabilidade como plataforma de mídia. De fato, quando o entrevistador da Axios perguntou a Sandberg se o Facebook era uma empresa de mídia, ela se esquivou de responder. O entrevistador não chegou a insistir, apontando que o Facebook recebe dinheiro para veicular publicidade da mesma maneira que a maioria das empresas de mídia do mundo. 

Segundo o TechCrunch, o grande problema dessa postura é que o Facebook organiza o que mostra às outras pessoas com base em dinheiro e engajamento. Notícias falsas muitas vezes acabam angariando um grande número de curtidas, reações e compartilhamentos por causa de sua natureza sensacionalista e, com isso, chegam a mais pessoas; se os posts forem patrocinados, esse alcance se multiplica ainda mais. 

Quando o Facebook identifica que uma notícia falsa foi promovida com dinheiro, ele deixa de veiculá-la. No entanto, de acordo com um e-mail de uma das agências de checagem de informaçõesobtido pelo site, esse processo geralmente leva três dias, e a notícia só chega a ser suspensa depois de já ter impactado muitas pessoas. A única medida que Sandberg pretende tomar para combater essa situação é educar o público sobre a natureza das propagandas do site. “Esperamos estabelecer um novo nível de transparência na publicidade”, disse.