O Zenfone 4 finalmente chegou ao Brasil. Em evento nesta terça-feira, 3, a Asus trouxe o aparelho que promete ser seu carro-chefe durante este fim de ano e por boa parte de 2018. O aparelho é um modelo premium, que vem ocupar uma faixa nova de mercado, segundo a empresa, que fica entre o top de linha (o Zenfone 4 Pro, competidor do Galaxy S8) e o intermediário premium (Zenfone 4 Selfie, competidor com o Moto Z2 Play).

Historicamente, a Asus tem acertado muito a mão na relação entre preço e qualidade dos produtos ofertados no Brasil. A estratégia agressiva de marketing tem dado resultado; de marca desconhecida no mercado de celulares em 2013, a empresa passou a competir ombro a ombro com nomes estabelecidos como Samsung, LG e Motorola pela preferência do usuário Android.

Isso não quer dizer que a empresa não errou ao longo dos anos. Críticas em relação a qualidade de software, acabamento e até em relação a bateria foram recorrentes, afastando uma parte do público. Com o Zenfone 4, a empresa tem a missão de solucionar essas falhas para realmente se estabelecer como a grande alternativa em sua faixa de preço. 

Antes de tudo, é importante notar: a versão que testamos tem o Snapdragon 660 com 6 GB de memória RAM e custa R$ 2.500 à vista (o valor parcelado pode ser maior).

Design

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Eu lembro de quando peguei o Zenfone 2 na mão. O celular era um monstro de hardware por um preço superacessível, mas você conseguia perceber onde a empresa estava cortando custos para chegar ao valor. O acabamento plástico era frágil, as teclas de navegação capacitivas não eram retroiluminadas e o aparelho era simplesmente meio tosco em qualidade de construção.

O Zenfone 3 mudou bastante isso, com um grande salto de qualidade que chegou ao seu ápice em 2017 com a versão 4. Muito da linguagem de design do aparelho se manteve do ano passado, com algumas adições bem-vindas. Os círculos concêntricos, marca registrada dos produtos da Asus, posicionados na traseira do smartphone criam um efeito de luz incrível que realmente faz o aparelho se destacar.

Isso dito, o acabamento em vidro na parte traseira sempre tem o problema de passar uma sensação de fragilidade do smartphone, mesmo com a utilização do Gorilla Glass 5, além de colecionar marcas de dedo. Esses problemas acabam encorajando usuários a usar um case protetor (que a Asus sabiamente fornece junto com o celular) que acaba escondendo o efeito de luz dos círculos concêntricos.

É notável que, finalmente, após tantos anos, finalmente as teclas de navegação são retroiluminadas. Isso permite saber que botão você está pressionando enquanto está no escuro, o que não era possível nas gerações anteriores. O leitor de impressão digital foi movido para a frente e faz as vezes de botão Home, também, o que o torna confortável e natural de usar, permitindo o desbloqueio rápido quando o celular está sobre a mesa, mas torna o aparelho um pouco defasado em relação à concorrência que tem movido o sensor para trás em favor de uma tela que ocupe quase toda a totalidade da parte frontal do celular.

Também é de se destacar que a Asus conseguiu incluir uma boa câmera no celular (mais detalhes sobre isso adiante) sem precisar criar volume adicional no aparelho, deixando a traseira totalmente plana, o que é um baita ponto positivo em uma época em que a lombada de câmera é quase padrão.

Desempenho

O Zenfone desde sempre tem a preocupação com hardware. A ideia é superar os modelos de sua faixa de preço em desempenho, oferecendo uma relação melhor de custo-benefício. O Zenfone 4 também não faz feio neste quesito.

O celular conta com um processador Snapdragon 660, que é um chipset intermediário-premium de respeito da Qualcomm, posicionado acima do Snapdragon 630 presente em concorrentes como o Moto Z2 Play. Além disso, ele traz 6 gigabytes de memória RAM, sendo um dos poucos aparelhos no Brasil a romper a marca dos 4 GB (Galaxy S8 e Moto Z2 Force são os outros).

Isso se traduz em uma experiência de uso extremamente rápida. A impressão que passa ao abrir um aplicativo ou fechar uma janela para voltar para a tela inicial do Android é que tudo acontece de forma instantânea. O aparelho também é otimizado para games mais pesados, então a tendência é que não seja sentida nenhuma lentidão com o uso cotidiano.

Para sabermos numericamente do que o Zenfone 4 é capaz, abrimos o sempre confiável aplicativo de benchmarks AnTuTu, que mostra uma pontuação de respeito para o celular da Asus. O modelo alcançou uma pontuação de 111 mil, o que o coloca em um patamar próximo de tops de linha do ano passado. O Google Pixel XL, por exemplo, tem uma pontuação de 130 mil.

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O aparelho também não faz feio em relação a consumo de bateria. Nos nossos testes, o aparelho regularmente aguentou mais de 24 horas de uso normal, resistindo entre 30 e 36 horas entre uma recarga e outra. O resultado poderia ser melhor com uma tela AMOLED, mas não é nada que se possa reclamar.

O problema do aparelho, no entanto, é que seu preço sugerido o coloca muito próximo do valor de mercado do Moto Z2 Force e do Galaxy S8, ambos encontrados com uma breve pesquisa por R$ 2.700 à vista. Isso significa o quê? Que por um preço similar é possível adquirir um smartphone com desempenho superior e que deve resistir mais tempo antes de começar a apresentar engasgos. 

Câmera

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Toda a campanha da Asus para o Zenfone gira em torno da câmera, e com razão. O aparelho realmente se destaca em sua capacidade de fazer fotos, utilizando seu setup de câmera dupla para registrar imagens de qualidade.

Primeiro é importante notar que o Zenfone 4 tem uma configuração particular de câmeras. Enquanto o iPhone 7 Plus, por exemplo, usa uma das lentes para fazer zoom e o Moto Z2 Force usa a segunda câmera apenas como complemento, a Asus escolheu utilizar a segunda câmera para fazer imagens com um ângulo mais amplo (conhecido como “wide”). Esse sensor é recomendado especificamente para esse tipo de imagem, enquanto o principal deve ser usado para as outras fotos mais comuns.

A lente principal registra fotos em 12 megapixels, aproveitando uma abertura grande de f/1.8, enquanto a secundária, grande-angular, tem apenas 8 megapixels, alcançando um ângulo de 120 graus. As imagens também contam com estabilização óptica, que permitem maior estabilidade e menos tremores.

O que muito me agradou na câmera foi a rapidez do obturador. A imagem abaixo foi feita em uma passarela sobre a Marginal Pinheiros, em São Paulo, por onde os carros circulam com uma velocidade média entre 50 km/h e 60 km/h. O Zenfone foi capaz de clicar a foto perfeitamente, sem que os veículos aparecessem borrados pela velocidade.

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Também foi gratificante ver o resultado das fotos em situações escuras. O aparelho foi capaz de compensar uma baixa iluminação sem adicionar muito ruído à imagem. Câmeras de mais baixa qualidade tendem a distorcer detalhes em situação de pouca luz, devido ao pós-processamento de baixo nível, ou a causar borrões, porque o obturador fica aberto mais tempo para captar o máximo de luz para tentar iluminar a imagem. Felizmente, não é o caso do Zenfone.

O aparelho também deve agradar àqueles que procuram dar mais personalidade às suas fotos. O Zenfone 4 conta com recursos avançados para realizar ajustes finos nas imagens, indo muito além do modo automático. O modo Pro permite ajustar foco, tempo de exposição, ISO e balanço de branco, o que são grandes alternativas para quem tem conhecimento mais avançado de fotografia.

De um modo geral, a câmera do Zenfone 4 é um destaque extremamente positivo.

Tela

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O display do Zenfone 4 pode ser considerado um ponto mais fraco na comparação com a concorrência, especialmente contra celulares da Samsung. A Asus apostou em um painel LCD que, apesar de não ser ruim, não faz frente às telas AMOLED tanto em qualidade quanto em economia de energia.

Não é difícil entender a escolha pelo LCD em vez do AMOLED. Como dito acima, preço é uma prioridade para a Asus, e a tecnologia AMOLED é significativamente mais cara, o que poderia impactar negativamente o preço final do produto. Entretanto, a escolha representa um declínio de qualidade.

A maior desvantagem do LCD diante do AMOLED é o consumo de energia. O primeiro depende de uma luz de fundo (ou “backlight”) que fica permanentemente acesa, independentemente do que está sendo exibido na tela; assim, se você só precisa de um único ponto branco no painel e todo o resto é preto, você está desperdiçando energia para acender a luz em todos os outros pixels da tela, que nem mesmo ficam totalmente pretos e se aproximam mais do cinza escuro. Já o AMOLED acende individualmente cada pixel, permitindo alcançar um preto real e evitando desperdício de energia.

O AMOLED ainda tende a apresentar maior contraste e cores mais fortes, o que pode ser bom ou ruim dependendo do seu gosto. Celulares da Samsung, que usam a tecnologia, tendem a dividir opinião por essas características, apresentando cores que alguns podem considerar excessivamente saturadas. Neste ponto, o LCD costuma ser mais equilibrado, alcançando também níveis de brilho mais fortes, o que proporciona boa leitura sob o sol.

Software

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Esse é o calcanhar de Aquiles da Asus. É possível perceber que a empresa investiu em melhoria do software, que ficou, sim, mais elegante do que a ZenUI presente nos celulares da empresa nos anos passados, mas ainda há muito a melhorar.

Uma das coisas que me chamou a atenção logo quando peguei o celular na mão foi uma tela de atualização do sistema operacional na qual o botão de confirmar cobre uma parte do texto. Além disso, também é fácil encontrar na interface alguns botões cujo texto encavala com o contorno da tecla, resultado de falta de otimização para o nosso idioma.

Durante o meu uso, também houve alguns problemas bem desagradáveis com o reconhecimento de impressões digitais. Em determinados momentos, aleatoriamente, o celular falhava em reconhecer meu dedo e, em vez de permitir uma segunda tentativa, ele simplesmente travava e não dava nem mesmo a opção de usar um PIN para desbloquear a tela, me forçando a esperar alguns minutos para usar o aparelho. Isso parou de acontecer após um reboot do celular; espero que tenha sido algo pontual e que não se repita com outros usuários, e que uma atualização resolva a questão.

Fora isso, é notável como a Asus conseguiu reduzir o número de apps pré-instalados incluídos com o sistema operacional. Em anos anteriores, esse número chegava à casa das várias dezenas, hoje tem apenas meia-dúzia, reconhecendo que vários dos apps disponibilizados anteriormente eram redundantes com as opções pré-instaladas do Google.

O ponto positivo da ZenUI é o mesmo de sempre. A Asus dá grande liberdade de personalização, possibilitando ao usuário dar a cara que preferir ao celular sem precisar de um launcher.

A evolução é notável, mas ainda não chegou lá. Quem sabe com o Zenfone 5?

Conclusão

O Zenfone 4 é um ótimo celular, mas a Asus errou a mão no preço da versão que nós testamos. A câmera é confiável, rápida e funciona bem em ambientes escuros. O aparelho tem poder de processamento digno de tops de linha do ano passado e é rápido para todas as tarefas que você precise concluir no seu cotidiano, ao mesmo tempo em que o aparelho não faz nem um pouco feio em questão de design. 

O problema é que essas qualidades acabam se escondendo quando comparamos o aparelho com verdadeiros tops de linha como o Moto Z2 Force e o Galaxy S8, que estão apenas R$ 200 mais caros e devem proporcionar maior durabilidade devido ao hardware mais avançado. 

O aparelho também não é perfeito. A tela dele poderia ser um pouco melhorada e a interface ainda precisa ser mais otimizada para o português para evitar alguns problemas bizarros de texto interferindo com o posicionamento de botões.

Assim, o Zenfone 4 tende a ser uma boa opção assim que seu preço cair. Enquanto estiver na faixa de preço em que está, procurar um top de linha que esteja se desvalorizando é uma escolha melhor.

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