A mulher que foi estuprada por um motorista da Uber na Índia em 2014 abriu um processo contra a companhia e três executivos e ex-executivos que supostamente obtiveram seus registros médicos de forma ilegal.
Identificada como Jane Doe (que é basicamente o equivalente inglês ao nome “Fulana de Tal”), a mulher vive no Texas, Estados Unidos, e teve seu caso atrelado à recente partida de dois dos três executivos citados na ação: Emil Michael e Eric Alexander. O terceiro é o CEO da companhia, Travis Kalanick, que anunciou há poucos dias ter entrado em licença por tempo indeterminado.
O estupro ocorreu em Nova Deli em dezembro de 2014; o motorista, Shiv Kumar Yadav, foi condenado a prisão perpétua por sequestro e estupro, e a Uber acabou banida temporariamente na região. A empresa chegou a ser processada por Doe, mas a vítima retirou a ação após um acordo judicial.
Embora publicamente a Uber tenha se mostrado comovida pelo incidente, reportagens revelaram nesta semana que o então presidente da companhia para as áreas Ásia/Pacífico, Eric Alexander, desconfiava que tudo não passasse de um esquema de sabotagem arquitetado por uma das concorrentes na região.
Com a conivência do chefe, o então vice-presidente sênior Emil Michael, e de Kalanick, Alexander pôs as mãos nos registros médicos de Doe e passou a tocar uma investigação para descobrir se sua suspeita estava correta. Após a divulgação da história, ele foi dispensado e, pouco depois, Alexander pediu demissão. Kalanick não está fora da Uber, mas entrou em recesso indefinidamente.
Douglas Wingdor, advogado que representa Doe, citou todo esse rolo na ação, lembrando que a Uber passou por uma extensa auditoria externa e se comprometeu a efetuar mudanças estruturais para evitar problemas semelhantes.
“Negação de estupro é só mais uma forma da discriminação de gênero tóxica que é endêmica na Uber e está integrada à sua cultura”, escreveu ele. “Com sorte, esse processo, junto com as alterações recomendadas pelo conselho independente, vão criar mudanças verdadeiras e reformas na Uber.”
O New York Times foi um dos veículos que ouviram fontes da Uber falarem sobre a obtenção dos registros de Doe. O jornal diz ter procurado Alexander, Michael e Kalanick, mas nenhum se dispôs a comentar.