Mais um governo entra em rota de colisão com o WhatsApp

Renato Santino27/03/2017 16h43

20170126101834

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

O WhatsApp está na mira de mais um governo. Depois de irritar autoridades brasileiras com criptografia e incapacidade de repasse de informações sobre crimes, agora é a vez dos britânicos ficarem incomodados com o modo como a ferramenta pode ser usada para atividades ilícitas.

No caso do Reino Unido, a preocupação surgiu após o atentado ao Parlamento em Londres, no qual um homem atropelou vários cidadãos e esfaqueou um policial. O governo acredita que poderia haver uma brecha criada propositalmente na criptografia do WhatsApp para que planos de ataques como esse possam ser identificados antes de serem colocados em prática.

Do jeito que a criptografia de ponta a ponta do WhatsApp e outros apps similares como o Telegram, não é (ou não deveria ser) possível interceptar mensagens. A única forma de acessar o conteúdo trocado entre os usuários seria tomar o celular do remetente ou do destinatário.

“É completamente inaceitável. Não deve haver lugares para que terroristas se escondam”, afirmou Amber Rudd, Secretária de Estado para Assuntos Internos do Reino Unido. “Precisamos garantir que organizações como o WhatsApp, e muitos outros serviços do tipo, não ofereçam um espaço secreto para que terroristas se comuniquem uns com os outros”, ela completou.

Quando o tema é criptografia, o problema é sempre o mesmo. É possível criar uma brecha para que governos investiguem atos criminosos e terroristas? Sim. É possível garantir que essa brecha será usada exclusivamente para tais fins considerados mais nobres? Não.

Qualquer vulnerabilidade será encontrada e aproveitada pelo cibercrime. O WhatsApp recebe muito conteúdo delicado, informações extremamente pessoais e também “hospeda” muitas empresas que usam a ferramenta para se comunicar com clientes, ou usam o app para viabilizar a troca de mensagens entre funcionários. Imagine se um hacker consegue criar uma chave-mestra que consegue destravar todas as conversas do aplicativo, onde as pessoas transmitem senhas, fotos, informações bancárias, segredos corporativos. Qual seria o tamanho do estrago?

E, claro, sempre há o risco de que os próprios governos usem a vulnerabilidade de formas menos éticas do que inicialmente propagandeados. O escândalo revelado por Edward Snowden em 2013 prova que qualquer brecha será usada para vigilância e espionagem de cidadãos.

O caso do Reino Unido também é simbólico para a situação do WhatsApp e aplicativos similares pelo resto do mundo. Uma nação com tanto poder econômico e político tende a influenciar e criar precedentes no restante do planeta. Se os apps cederem à pressão na região, é provável que usuários em todo o globo sejam afetados.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital