Trump revolta empresas de tecnologia com ordem contra imigrantes muçulmanos

Equipe de Criação Olhar Digital30/01/2017 14h11

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No sábado, 28 de janeiro, o presidente dos EUA, Donald Trump, assinou uma ordem executiva que proibia a entrada de refugiados sírios no país por 120 dias. A ordem, além disso, também bania do território estadunidense quaisquer imigrantes de sete países de maioria muçulmana: Irã, Iraque, Síria, Sudão, Líbano, Iêmen e Somália. Por tratar-se de uma ordem executiva, ela entrou imediatamente em efeito.

Motivações à parte, a ordem provocou caos nos aeroportos. Passageiros da Síria que haviam embarcado antes de a ordem ser assinada chegaram aos EUA com visto e tudo, mas mesmo assim foram presos. A medida provocou protestos em torno de aeroportos e, no dia seguinte, a União de Liberdades Civis dos EUA (ACLU) conseguiu fazer com que um juiz revertesse alguns dos efeitos mais nefastos da canetada de Trump.

Entre sábado e domingo, contudo, as empresas de tecnologia se posicionaram fortemente contra a medida do presidente. Muitas delas, além de demonstrar publicamente seu repúdio à atitude xenofóbica, também criaram fundos de apoio e ofereceram serviços às pessoas afetadas pela ordem executiva. Abaixo, separamos alguns dos exemplos mais notáveis.

Google

Liderado por um imigrante indiano, o Google tinha bons motivos para se posicionar contra a medida de Trump. O CEO da empresa, Sundar Pichai, não costuma se posicionar publicamente sobre assuntos políticos, mas dessa vez foi ao Twitter manifestar seu apoio aos imigrantes afetados:

Não foi apenas uma posição pessoal que Pichai manifestou, mas também uma posição profissional: segundo a Bloomberg, um comunicado de Pichai enviado aos funcionários da empresa informou que mais de 100 empregados do Google foram diretamente afetados pela medida. No mesmo comunicado, Pichai sugeriu que todos os funcionários da empresa que estivessem viajando a trabalho voltassem aos EUA o quanto antes para evitar quaisquer problemas na hora de voltar para suas famílias.

Em resposta a essa situação, a empresa criou, de acordo com o USA Today, o seu maior fundo humanitário até hoje. O Google se comprometeu a doar US$ 4 milhões a instituições estadunidenses voltadas para a segurança de imigrantes e refugiados, incluindo a já citada ACLU e a UNHCR, a agência de refugiados da ONU.

Apple

Tim Cook, o CEO da Apple, também se posicionou contra a medida de Trump. Ele já havia se reunido com o novo presidente e sua empresa pode ser pesadamente afetada por algumas das medidas econômicas que Trump propôs ao longo de sua campanha. No entanto, em um e-mail enviado por ele aos funcionários da Apple (obtido pelo Buzzfeed), ele deixa clara sua oposição à medida.

“A Apple não existiria sem imigração, muito menos prosperaria e inovaria como fazemos atualmente”, diz. Sobre a canetada de Trump, Cook fala com clareza: “Não é uma política que apoiamos”. “Há empregados da Apple que são diretamente afetados pela ordem de imigração de ontem [28/01]. Nossas equipes de Segurança, Direito e RH estão em contato com eles, e a Apple fará tudo o que pudermos para apoiá-los”, continua.

Reforçando o recado, o CEO da Apple ressalta: “Como eu disse muitas vezes, a diversidade nos torna mais fortes”. “Nossos funcionários representam o melhor talento do mundo, e nossa equipe vem de todos os cantos do globo”, ressaltou.

Microsoft

Satya Nadella, o CEO da Microsoft, também se manifestou sobre o tema. De acordo com o TechCrunch, ele usou o LinkedIn para compartilhar uma mensagem escrita pelo diretor jurídico e presidente da empresa, Brad Smith, a todos os funcionários da Microsoft.

Comentando o texto de Smith, Nadella disse o seguinte: “Sendo eu próprio um imigrante e um CEO, já experimentei e vi o impacto positivo que a imigração tem na nossa empresa, para o nosso país e para o mundo. Seguiremos militando por essa importante causa”.

O texto de Smith, por sua vez, ressalta que 76 funcionários da Microsoft poderiam ser afetados pela medida de Trump. “Entendemos que questões de imigração são importantes também para muitos outros funcionários da Microsoft num nível de princípios e até emocional, independentemente de eles serem ou não imigrantes”, diz.

Facebook

Numa postura comparativamente frouxa, o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, também fez um post no qual se diz “preocupado com o impacto das ordens executivas assinadas recentemente pelo presidente Trump”. Ele pode ser lido na íntegra abaixo:

“Meus bisavós vieram da Áustria, Alemanha e Polônia. Os pais da Priscilla [sua esposa] eram refugiados da China e do Vietnã. Os EUA são um país de imigrantes, e deveríamos nos orgulhar disso.” Por outro lado, o líder da maior rede social do mundo não adotou nenhuma medida mais incisiva para ajudar as pessoas afetadas pela ordem, ou para permitir que seus usuários manifestassem solidariedade.

Uber

Durante a noite de sábado, milhares de pessoas foram ao aeroporto JFK, em Nova York, para protestar contra a medida de Trump. Naturalmente, isso causou um enorme acúmulo de pessoas por lá, o que fez com que quem quisesse sair do aeroporto de Uber tivesse que lidar com a tarifa dinâmica. Em resposta à situação e em apoio ao protesto, a Uber desativou a tarifa dinâmica na região, como divulgado pelo Twitter:

O CEO da empresa, Travis Kalanick, enviou um e-mail aos seus funcionários posicionando-se contrariamente à medida. Mais tarde, ele publicou a íntegra do e-mail em seu perfil do Facebook, e ela pode ser lida abaixo:

Como Kalanick ressalta, além de empregados diretos da Uber, a medida também afeta milhares de motoristas que vêm dos países listados. “Esses motoristas que atualmente estão fora dos EUA não poderão voltar pelos próximos 90 dias. Isso significa que eles não poderão ganhar seu sustento ou dar apoio às suas famílias durante esse tempo – e, é claro, ficarão separados de seus entes amados”, afirmou.

Para compensar os efeitos dessa medida – que ele chamou de “errada e injusta” – a Uber anunciou que criará um fundo de US$ 3 milhões para dar assistência jurídica aos motoristas afetados. A empresa também se comprometeu a “compensar os motoristas por sua renda perdida” por conta da ordem de Trump.

Netflix

O CEO da Netflix, Reed Hastings, teve uma das falas mais abertamente críticas à medida de Trump. Por meio do Facebook, ele compartilhou uma mensagem na qual ressalta que “as ações de Trump estão prejudicando funcionários da Netflix no mundo todo”:

“Pior: essas atitudes farão dos EUA um lugar menos seguro (por causa do ódio e da perda de aliados), em vez de mais seguro”, considerou. “É hora de juntar nossos braços para proteger os valores estadunidenses de liberdade e oportunidade”, concluiu.

Airbnb

Embora a Airbnb não seja uma empresa de tecnologia tão grande quanto as outras citadas acima, a atitude dela durante a crise gerada pela ordem de Trump foi notável. O CEO da empresa por trás da rede de aluguéis de imoveis para viagens informou pelo Twitter que o Airbnb estava oferecendo hospedagem gratuita a pessoas afetadas pela ordem executiva:

Para isso, a empresa pretende acionar o seu programa de resposta a desastres, ao qual os usuários do Airbnb podem se inscrrever para oferecer auxílio a pessoas necessitadas. As pessoas inscritas hospedam os afetados pelas crises e, nesses casos, as taxas do Airbnb não são aplicadas. Em um comunicado enviado ao TechCrunch, a empresa disse ter doado mais de US$ 1 milhão à agência de refugiados da ONU e ter já disponibilizado mais de 3.000 noites de hospedagem grátis.