Um grupo de 25 cientistas anunciou ontem a criação de um projeto para construir um genoma humano sintético. O projeto seria semelhante ao Projeto Genoma Humano (HGP na sigla em inglês), mas enquanto o HGP tinha o objetivo de “ler” o genoma, entendendo o que cada parte dele faz, o objetivo desse novo projeto é “escrever” o genoma, facilitando e barateando a edição genética.

Por esse motivo, o projeto está sendo chamado por ora de HGP-write. Com ele, os cientistas esperam poder superar uma série de desafios atuais na área da saúde humana, tais como criar células imunes a vírus, resistentes a câncer e tumores e acelerar o desenvolvimento de remédios e fármacos por meio da utilização de células humanas para testes. Seria possível ainda criar em laboratório órgãos humanos para transplante.

Os cientistas esperam que o HGP-write custará menos do que os US$ 3 bilhões investidos no Projeto Genoma Humano original. Seu objetivo é agregar um fundo de US$ 100 milhões “de fontes públicas, privadas, filantrópicas, industriais e acadêmicas do mundo todo”, para lançar o projeto ainda em 2016.

publicidade

Em 10 anos, os pesquisadores esperam sintetizar completamente o genoma humano e testá-lo em células de laboratório, segundo a Reuters. Com a tecnologia gerada pelo projeto, eles acreditam que será possível reduzir a um milésimo do atual o custo de sequenciamento e edição de genes.

Problemas éticos

De acordo com o Stat, a simples existência do projeto da forma como se deu levanta preocupações éticas na comunidade científica. O HGP-write foi anunciado um mês após os envolvidos participarem de uma reunião a portas fechadas na Escola de Medicina de Harvard.

Isso fez com que a comunidade científica visse com maus olhos o resultado da reunião. De acordo com um biólogo e uma bioeticista entrevistadas pela Stat, a ausência de debate sobre as questões éticas da construção de um genoma humano sintético são suficientes para avaliar que “a proposta atual deve ser rejeitada e não perseguida por enquanto”.

Possibilidades perigosas

Não é à toa que a comunidade viu “problemas éticos mal resolvidos” no projeto. A tecnologia permitiria, entre outras coisas, a criação de embriões humanos inteiramente em laboratório, com a edição de todo o seu DNA feita sob medida.

Isso também abriria espaço para a criação de seres humanos feitos “sob medida”, com determinadas características físicas ou orgânicas, já que todos os seus genes pdoeriam ser editados. Ainda haveria a possibilidade de se “melhorar” seres humanos por meio de edições específicas em seus códigos genéticos, ou mesmo a criação de “superhumanos” com genes diferentes.

Essas possibilidades, no entender dos cientistas, exigem que uma discussão mais aprofundada sobre um projeto desse tipo aconteça antes de que ele seja iniciado. Embora alguns cientistas já tenham manifestado apoio a pesquisas desse tipo, outras experiências com edição genética de embriões humanos levaram a manifestações de repúdio de alguns pesquisadores.