Eu faço parte da última geração que viveu o mundo analógico. A última que leu revistas em consultórios médicos e que pode comparar os momentos de ócio offline e online. A última geração designada por Michael Harris, autor do livro “O Fim da Ausência”, como bilíngue – por ser capaz de traduzir o mundo analógico para o digital, ou vice-versa. Para Harris, faço parte de um grupo com habilidade única, de notar como a introdução da tecnologia mudou o mundo e como as pessoas se relacionam.

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Qualquer espera em ponto de ônibus ou um olhar mais cuidadoso em uma praça de alimentação nos permite concordar com Harris e perceber que nunca mais estaremos sozinhos. O celular é nossa maior companhia, e até a Apple tem feito questão de nos lembrar disso ao incluir em sua atualização o envio de relatório de tempo de uso das aplicações de nossos smartphones.

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Mas esta grande habilidade pontuada por Harris nos desafia a um esforço imenso para prover tecnologia e acompanhar as demandas da geração sucessora, a Geração Z. Os primeiros classificados em estudo da Box 1824 em parceria com a McKinsey como digitais nativos, que já alcançaram a maioridade, mas suas características de consumo e comportamento diferem muito do que buscávamos até pouco tempo atrás. Estabilidade, casa própria, carro e a roupa da moda… Nada disso é prioridade para eles. São da geração consumidora da economia criativa, que compra serviços em vez de produtos.

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No mercado corporativo, não estamos falando em nenhuma novidade por enquanto. Na década de 90 já se regulamentava o Saas – Software as a Service, no mesmo modelo de pagamento recorrente por uso de produtos, sem a necessidade de um investimento grande na sua compra. Mas, felizmente, as tecnologias evoluíram muito, e a mesma geração Z que trocou o carro próprio e o hotel na praia pelo Uber e Airbnb, está revolucionando os setores da economia. Surgiram as Fintechs, Agroteths, Healthtechs, Lawtechs, e tantas outras cujo sufixo indica o que domina os mais diversos setores hoje.

No mundo, há pelo menos duas décadas o uso da tecnologia e a economia criativa pautam também o processo de formulação e implementação de políticas públicas. Blockchain, robótica, criptomoedas, drones e inteligência artificial são alguns dos recursos que veremos bastante aplicados no dia a dia dos serviços e políticas públicos.

A Austrália anunciou recentemente o lançamento da Australian National Bockchain, uma plataforma federal que permitirá às empresas automatizar transações baseadas em contratos inteligentes. Por exemplo, sensores de canteiros de obras irão registrar data e hora de entrega de uma carga, e a empresa fornecedora poderá notificar automaticamente o banco de que o contrato foi cumprido, usando a tecnologia para os próximos passos da cobrança. É o conceito de contabilidade distribuída.

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Ainda que no Brasil este processo seja mais lento, este tema se fortalece e traz segurança para os serviços públicos e privados. Já pontuei aqui anteriormente a importância da tecnologia para garantir segurança para o nosso processo democrático nas eleições e no registro de informações para prestação de contas. Os registros de cartório, por exemplo, se beneficiariam muito da possibilidade de cadeias de blockchain como a da iniciativa australiana. Recursos disruptivos para nós, da era analógica, mas que fazem sentido à geração Z desde que eles nasceram.