Todo mundo sabe que a inteligência artificial veio para ficar em todas as áreas da sociedade. No mundo do Direito não é diferente, embora o setor jurídico sempre tenha tido uma cultura conservadora e de resistência às inovações. A boa notícia é que este cenário está mudando. Há pelo menos cinco anos, dezenas de novas tecnologias estão transformando a forma de prestação do serviço jurídico

Na tentativa de agilizar o andamento dos quase 100 milhões de processos em andamento na Justiça, o Poder Judiciário passou a investir em tecnologia. Isto fez com que alguns escritórios de advocacia e departamentos jurídicos das empresas também passassem a ver o uso da tecnologia como aliado profissional.

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No setor público a primeira iniciativa surgiu com a instalação do processo judicial eletrônico, que mudou o mindset da classe jurídica. Outras mudanças legislativas significativas já estão valendo como, por exemplo, a possibilidade de aceitar documentos eletrônicos e contratos digitais, ou ainda o reconhecimento de autenticidade declarado pelo advogado em autos eletrônicos.

Mas e os advogados? A maioria ainda demonstra uma acomodação generalizada com os procedimentos antigos e ultrapassados. Poucos escritórios aderem à tecnologia para facilitar o seu fluxo de trabalho, causando uma resistência à adoção das facilidades que a inovação vem trazendo.

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Felizmente há uma minoria, mas significativa, que está acompanhando as mudanças e começando a perceber inúmeras facilidades que a advocacia digital pode trazer. O fluxo de trabalho realizado em plataformas digitais preparadas para a advocacia permite um aumento de produtividade que pode ser 400% maior que a produtividade comum de um escritório convencional.

Por exemplo, já existem no Brasil alguns escritórios com equipes médias, com mais de 10 advogados, que não atuam no mesmo lugar presencialmente e apenas se encontram uma ou duas vezes por mês para as reuniões estratégicas. O trabalho é feito totalmente em home office, com o uso de ferramentas tecnológicas que ajudam na produtividade. Esta produtividade aumenta ainda mais quando técnicas de gamificação e de gestão por pontuação em tarefas são adotadas pela equipe jurídica.

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A verdade é que o uso da inteligência artificial no mundo jurídico vem provocando reduções drásticas no custo de manutenção de processos judiciais, mas apenas para grandes corporações e para o governo. Estes benefícios precisam ser ampliados para a população, a fim de ampliar o acesso à Justiça.

A tecnologia não pode ser vista apenas como ferramenta para melhoria de performance das equipes de retaguarda dos escritórios. Ela pode, e deve, ser usada também visando prospecção com efetividade de segmentação dos clientes por meio do marketing jurídico digital. O uso do conhecido e tão falado inbound marketing já vem sendo aceito pelos Tribunais de Ética da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

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A mudança vem sendo exponencial e apoiadas por um movimento rápido e eficiente de lawtechs brasileiras. Outra boa notícia é que 80% do mercado de tecnologia jurídica brasileira são desenvolvidas por empresas nacionais. Os desenvolvedores e empresários brasileiros da área estão avançando com muita eficiência, e o que se vislumbra é um fortalecimento ainda maior da presença de algumas empresas brasileiras no mercado nacional e possivelmente nos demais países da América do Sul.

O imenso mercado jurídico – formado por mais de 5 milhões de bacharéis em Direito e mais de 1,1 milhão de advogados – é terra fértil para o crescimento da inovação e da tecnologia no país. Mas é preciso que os advogados despertem para as facilidades e melhorias que a tecnologia pode trazer aos escritórios e ao dia a dia de quem trabalha com o Judiciário.

Para isso, é preciso que haja uma elevação da maturidade digital dos advogados para melhorar a sua atuação, especialmente no que diz respeito a atendimento dos clientes.

Inúmeras profissões já passaram a atender os clientes através de sites, aplicativos e redes sociais. Atualmente existem psicólogos que já fazem o atendimento de seus clientes por videoconferência, assim como inúmeros outros profissionais que também atuam com situações complexas. A realidade é que estas profissões (inclusive a advocacia) não necessitam de uma logística complicada de entrega e frete, portanto, muito mais simples de implementar.

A advocacia pode parecer diferente, por se tratar de um serviço que envolve um atendimento complexo, mas não é.

A realidade é que há muitas possibilidades que abrem as portas para a maior transformação que a profissão do advogado vai passar desde o Império Romano. Respeitando, claro, os preceitos éticos, o uso da internet e da tecnologia deve ser disseminado e acessível à toda sociedade, e a todos os cidadãos. Surge, então, a necessidade de um novo mindset da classe jurídica, já que a tecnologia é um caminho sem volta.