No fim de setembro, noticiamos aqui no Olhar Digital a prisão de um grupo acusado de montar uma pirâmide financeira usando uma moeda virtual falsa. A quadrilha por trás do esquema movimentou R$ 250 milhões com investimentos de 40 mil vítimas espalhadas pelo Distrito Federal e por Goiânia.

A promessa era de rendimentos de 1% ao dia, mas o saldo só poderia ser resgatado após um ano. A quadrilha ainda prometia um bônus de 10% sobre o valor da moeda, chamada de “kriptacoin”, para quem trouxesse mais investidores para o esquema.

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No fim das contas, porém, a moeda não existia de verdade, e o grupo ficava com todo o dinheiro dos investimentos. O lucro aumentava proporcionalmente à entrada de novas vítimas no esquema. Uma das vítimas disse à polícia que perdeu R$ 200 mil aplicados na moeda falsa.

Infelizmente, golpes do gênero não são tão raros. A Polícia Civil vem investigando um outro grupo também acusado de montar uma pirâmide financeira com base numa moeda virtual chamada “adscoin”, e que, ao que tudo indica, também não passa de uma cortina de fumaça.

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A multiplicação de golpes do tipo parece se basear em dois fatores fundamentais. Primeiro: a rápida valorização da moeda virtual mais famosa do mundo, a bitcoin. Nesta semana, a criptomoeda atingiu o valor de mercado de US$ 10 mil, um crescimento de 900% em um ano. É natural que chame a atenção de investidores sem medo de altos riscos.

Segundo fator fundamental: o funcionamento básico das criptomoedas. Ao contrário do real ou do dólar, a bitcoin e tantas outras moedas virtuais, como a ethereum, não são controladas por um país ou organização. Seu preço é definido por pura especulação financeira, o que, inevitavelmente, leva ao surgimento de uma bolha (cujo estouro já deu seus primeiros sinais nos últimos dias).

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É com base nisso que criminosos inventam moedas virtuais falsas, oferecem investimentos a ganhos irreais e somem após levar o dinheiro de vítimas desavisadas. Afinal, a bitcoin, como qualquer outra criptomoeda, não “existe” fisicamente como o real, o dólar ou outro ativo negociável legitimamente. Qualquer um pode “criar” sua própria criptomoeda.

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Resta aos investidores ficarem de olho. Criptomoedas são investimentos de alto risco, mas apostar numa nova “coin” da qual nunca se ouviu falar é um tiro no escuro que fatalmente pode sair pela culatra. A dica é: mantenha-se longe de promessas de alto rendimento com liquidez fácil demais envolvendo uma moeda desconhecida. É mais provável que seja um golpe do que uma aplicação legítima.

Mas o que deve fazer quem já caiu num golpe desses, ou ao menos supõe que foi enganado? “Para quem foi vitima, é importante destacar que pode incidir nestes casos crimes de estelionato, organização criminosa e de pirâmide financeira”, explica o advogado especialista em direito digital José Antonio Milagre em artigo enviado ao Olhar Digital.

“Embora a empresa ‘da pirâmide’ possa não existir, as vitimas devem salvar todos os conteúdos”, escreve Milagre. Isso inclui registros por e-mail, comprovantes, arquivos, páginas em redes sociais e todo tipo de prova de contato entre você e a empresa falsa que possam ser usados como prova para compor um caso na Justiça.

Em seguida, é importanto buscar um advogado de confiança para cuidar de abrir um processo contra os possíveis estelionatários. Aquelas provas que você reuniu, segundo Milagre, podem ajudar a conseguir na Justiça o congelamento dos bens dos acusados e a recuperação do dinheiro que você investiu.

“Mas a maior recomendação é prevenção!”, recomenda o advogado. “Não acredite em dinheiro fácil, fique atento aos sinais de uma pirâmide e, principalmente, denuncie”. No site BadBitcoin, você encontra uma lista de sites pouco confiáveis e que prometem rendimentos com base na famosa criptomoeda, dos quais você deveria passar longe.