A advogada Janet Herold, do Departamento do Trabalho dos EUA (DoL), se mostrou preocupada com a atitude do Google sobre permitir que seus funcionários denunciem desigualdades ou injustiças na empresa. Em uma entrevista concedida ontem ao Guardian, Herold disse que alguns funcionários da empresa estavam “preocupados com falar sobre o Google para o governo”.

“Tivemos empregados ao longo da investigação que demonstraram preocupações quanto à permissão que o Google lhes dava para falar com o governo, porque as políticas da empresa lhes obrigam confidencialidade”, disse a advogada. “Em um caso como o do Google, no qual nossa análise preliminar revelou discriminações sistêmicas de remuneração contra mulheres em todos os cargos, (…) os funcionários são os nossos olhos e ouvidos”, completa.

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O Google vem sendo investigado pelo DoL desde janeiro deste ano. A empresa presta serviços ao governo dos EUA e, por isso, precisa provar que segue as políticas de remuneração igualitária que o governo exige. No entanto, a empresa se negou a revelar algumas informações sobre a remuneração de seus funcionários ao governo. O DoL suspeita que a empresa tenha “disparidades extremas” na remuneração entre homens e mulheres.

Cultura de silêncio

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Segundo Herold, “mesmo que um único empregado demonstre isso [preocupação em falar sobre a empresa], significa que muitas outras pessoas estão preocupadas demais para falar ou até mesmo para pensar sobre isso”. Ela afirma que “o efeito silenciador [dessa situação] é bastante extremo”. 

Um funcionário que já foi ouvido pelo DoL durante as investigações afirmou que “a cultura [da empresa] reforça que vazar informações é vergonhoso”. Isso, de acordo com ele, “cria uma sensação de paranoia” e “dá a impressão de que eventuais vazadores serão encontrados e eliminados”. Outro funcionário afirmou que denunciar as injustiças da empresa era “um caso de ‘diga algo e veja nada acontecer’, ou ‘diga algo e encare as consequências'”.

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Essa sensação de “paranoia” seria causada, dentre outros fatores, pelos acordos de confidencialidade que os funcionários da empresa precisam assinar antes de trabalhar lá. De fato, outro processo, movido pelo comitê de relações trabalhistas dos EUA (NLRB) em abril, alega que esses acordos infringem os direitos dos empregados. Nessa outra ação judicial, a NLRB alega que a empresa já teria “ameaçado demitir e processar funcionários que participaram de atividades protegidas e concertadas”.

Pelo menos um empregado do Google já deixou de se pronunciar sobre desigualdades de remuneração por medo da empresa. James Finberg, um advogado de São Francisco, disse ter conversado com uma série de funcionários da empresa que consideraram processá-la por conta dessa desigualdade, mas tinham medo de ser demitidos. Finberg considera que a empresa deixa seus funcionários “com medo de demissão” e “faz isso para desencorajar processos”.

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Resposta

Numa declaração ao Guardian, o Google rejeitou as alegações de Herold, afirmando: “Nossas políticas de trabalho deixam claro que os funcionários podem falar livremente sobre assuntos de trabalho, e reportar suas preocupações ao governo sem medo de represálias”. A empresa também vem negando que paga mais a homens do que a mulheres, dizendo que suas próprias análises concluíram que essa disparidade não existe. 

Sobre as entrevistas de seus funcionários pelo DoL, um porta-voz da empresa disse que “é claro que [o departamento] poderá entrar em contato e falar livremente com o conjunto de funcionários designados, conforme determinado por decisão judicial”. Quanto ao processo movido pela NLRB, o porta-voz afirmou que “as políticas em questão já haviam sido revisadas e substituídas muito antes de o NLRB apresentar a denúncia”. Ele não respondeu, no entanto, quais foram as mudanças feitas.